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sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Lampião em quadrinhos: Além do bem e do mal

*Luiz Zanotti

Este resumo pretende divulgar o artigo “Lampião em quadrinhos: Além do bem e do mal”, presente na coletânea Assim transitam os textos: ensaios sobre intermidialidade (ainda no prelo) organizada pela Professora Brunilda Reichmann, que analisa a adaptação para as histórias em quadrinhos e romances gráficos da personagem Lampião, um dos heróis brasileiros que teve a sua biografia romanceada, filmada, dramatizada, e, é por muitos, considerado a personagem mais importante em termos do número de obras publicadas no Brasil. Neste sentido, problematizamos os cartoons sobre o sertão do cartunista Henfil, a história em quadrinhos Lampião: ...era o cavalo do tempo atrás da besta da vida (2006), de Klévisson Tupynanquim e o romance gráfico Lampião e Lancelote (2007) de Fernando Vilela. Nestas três obras, será possível verificar como cada autor busca a adaptação desta ilustre figura, seja no seu confronto com a época do autoritarismo (Henfil), seja na apropriação da literatura oral popular, e mais especificamente o cordel, por novas mídias (Tupynanquim), bem como o enfoque da dicotomia bem/mal no Lampião de Vilela. Esta ambivalência está presente na literatura, onde o cangaceiro geralmente é caracterizado ou como um herói ou como um facínora.
Após breve introdução que versa sobre a importância do cangaceiro no cenário nacional, passamos a verificar as adaptações da personagem de Lampião para o desenho, apresentando primeiramente o cartunista, desenhista, jornalista e escritor mineiro, Henrique de Souza Filho, ou Henfil, que tem como principal característica o seu humor ácido, irônico e inteligente e foi um dos principais adversários da ditadura militar instalada no Brasil.
Entre as diversas personagens criadas pelo autor focamos em personagens tais como a Graúna, o Bode Orelana e o Capitão Zeferino, inspirados no sertão/caatinga nordestina, que mediavam a feroz e humorada crítica que  Henfil elaborava contra a ditadura militar.
A seguir, passamos a analisar o trabalho de Klevisson Tupynanquim que revisita o cordel através de seu maior sucesso nos quadrinhos: Lampião: era o cavalo do tempo atrás da besta da vida  estabelecendo um diálogo entre o cordel e os meios de comunicação de massa no contexto do advento de novas tecnologias, como é o caso da internet. Esta história em quadrinhos  foi selecionada pelo Programa Nacional do Livro Didático do Estado de São Paulo, bem como pelo Programa Nacional da Biblioteca Escolar, o que resultou em mais de quarenta mil exemplares distribuídos nas escolas públicas participantes do programa. É importante notar que o cartunista criou desenhos expressivos, tendo o cuidado de escrever todos os textos dos balões “exatamente” como o povo local pronunciava na época.
Enfim, dentro desta diversidade midiática que se apropria da temática lampiônica verificamos o romance gráfico Lampião e Lancelote (2007), de Fernando Vilela, ganhador do premio Bolonha Ragazzi. Este livro trabalhado de uma forma extremamente simbólica já apresenta na capa a contraposição que se seguira por todo o romance entre a predominância da cor prateada para Lancelote e a paisagem medieval inglesa, e a cor dourada para Lampião e o sertão nordestino.
Desta forma, trabalhamos neste estudo com a cor prata com o significado de pureza, inocência, uma consciência pura, além de seu caráter eminentemente  feminino, tendo a imagem da lua e da noite em oposição ao dourado do masculino, do dia e o sol.
Assim, no romance gráfico de Vilela, a Inglaterra (na época Bretanha) medieval e Sir Lancelote aparecem numa cor prateada apontado para o sombrio, para a noite e para o frio, enquanto o sertão nordestino e Lampião são apresentados na cor dourada que domina o sol e o calor.
O interessante deste romance gráfico é que o autor numa perspectiva de aproximar o sertão nordestino à Idade Medieval, proporciona a passagem de Lancelote para a época de Lampião, onde o cavaleiro passa a cavalgar pelo sertão nordestino até o momento em que se defronta com Lampião o que vai acarretar numa grande batalha entre o exército de cavaleiros de Lancelote e os cangaceiros de Lampião que se engalfinham numa mistura de cores entre o prata e o dourado.
Enfim, neste artigo ilustrado pelos desenhos dos artistas, é possível perceber a diversidade disponibilizada pelo processo intermidiatico da transposição da personagem Lampião para os cartoons, tirinhas e romances gráficos, através da variedade de formas com que cada um dos artistas lidou com a personagem, pois enquanto Henfil utilizou a sua ótica para dar voz a uma situação política inadequada, Tupynanquim buscou popularizar o cordel, ao mesmo tempo que, pretende atualizar esta arte através dos novos recursos tecnológicos e Vilela, por sua vez, busca quebrar a visão dicotômica herói-bandido de Lampião.


*Professor do Mestrado em Teoria Literária da Uniandrade.

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